segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

On the importance of origins: Brazil, land of the future? Alfredo Attié



On the importance of origins: Brazil, land of the future?

Alfredo Attié Jr. (Judge at the Court of Sao Paulo; JD, LLM, PhD University of Sao Paulo, Brazil)

“…life in the temporal existence never becomes quite intelligible, precisely because at no moment can I find complete quiet to take the backward-looking position.” Kierkegaard.

Although repeatedly disregarded, past experiences count for a lot.
Since the beginning of its existence in the 16th century, Brazil has been perceived as a land pregnant with the richest materials, a place of delightful climate, abundantly endowed with the richness of natural resources. The country was just waiting for the entrepreneurs’ efforts to become useful for the needs of successive economic cycles of development.
So the idea of the `land of the future` would be always repeated until it was finally stated in print by Stefan Zweig, in the first part of the 20th century, in his book: ‘Brasilien Land der Zukunft.’ The Austrian writer was certainly thinking about a Utopia, comparing Brazil to the critical moment that his own Europe was experiencing in the between-Wars period, and then elaborating on another myth, the Brazilian tolerance, comparing it to the anger that was increasingly leading up to the Nazi atrocities.
But what if we ponder nowadays on these opinions, when the Brazilian territory and natural resources have already been exploited, when we look at the violence statistics, vis-à-vis the hope for the future Utopia?
Last summer I was surprised into pondering on these thoughts when taking cabs in Washington D.C., I heard very eloquent compliments on the `Brazilian achievements in its fight against poverty and for the narrowing of the gap between classes, and also for not only obtaining results within Brazil itself but also spreading its viewpoints around the world.’ Around the same time I heard repeated complaints about the corruption in our Institutions made by an American scholar during a meeting in which we compared the two legal systems.
This is the point. We cannot disassociate the defence of a mythological paradise, waiting to be discovered or about to be given birth, and the flagrant reality of our profound problems which continue to erupt and which give the lie to our hopes and dreams of a perfect land, to arise sometime in the future…
My argument is that not only will these problems never be solved while we preserve the legend, but also it will remain impossible to face up to our reality until we take the firm decision to rid ourselves of this way of thinking which we have carefully built up to take care of our problems, and we must try to understand their underlying causes and decide how to deal with them.
There are indeed two ways of obtaining information and advice about public policies: public opinion or public choice and the `cloister-experts` ways. They differ in their approach to the relevance of public on public policies opinion in government decision-making, its judgment of policies and choice of measures. Must public opinion be taken into account? If not, decisions must be taken through hearing the experts’ advice, which would provide the knowledge in making the right choice. But they have one very important thing in common: the importance they give to the education process, to better public opinion in general and to prepare high-level experts to give their own opinions.
Brazil, however, has opted for a very different path: it disdains the intellectual ability to understand the problems and give advice. At the same time it deliberately pays no heed to public opinion - it often regards it with absolute distrust and without any respect (the free press and opinion in Brazil have been considered to be unimportant by successive governments, and sometimes even as enemies of the political professional life). Brazil does not like public opinion. Not only does it look on it as something suspect and malignant but also does everything in its power to give its own people one of the worst educational systems in the world.

How can public opinion grow if the public is consistently under-educated, has no access to the means of knowledge and the means of becoming aware of their own lives and the actions of others, and mainly to be able to criticize their own government?


If Brazil does not adopt any of the usual ways of gathering information and creating public opinion how can it make correct decisions? Brazil has, unfortunately, chosen a third way, a very traditional one: the ‘godsons’ or ‘goddaughters’ method. The current process of electing our next President is an example of the latter. Instead of listening to the people themselves, through the parties electoral process, instead of widening the process of choosing a candidate, looking for new skills, new talented politicians, Brazil prefers to accept the same names or the direct appointment of the old politicians (in other times named `barons` or `colonels`; nowadays `nation-savers`) of `godsons` or ` goddaughters.`


Without education the people cannot say `no`. The cycle of our origins is spinning around, over and over, avoiding changes. Paradoxically, the land of the future remains afraid of the new.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Livros


Estimado amigo,

Como o inconsciente, que não tem história, a amizade desconhece as regras do tempo. O amor, enfim, em todas as suas formas, eros, philia, agape, storge, que, diziam os antigos, tudo vence, não precisa de experiência, nem de meditação, ele é ou não é, et nos cedamus amori.

Indaga-me como amigo quais seriam os livros importantes, aqueles que, lidos, conformariam a sabedoria, talvez menos a erudição, comporiam o patrimônio do que chamamos, desde o século XVIII, de civilização.

Há, é claro, os róis preparados por homens efetivamente eruditos, de cultura reconhecida porque haurida dos clássicos, que acabam por ser exatamente aqueles que devemos ler.

Mas o clássico depende de regra, de consenso dos doutos. Nem sempre queremos ser doutos. O mais das vezes queremos ser apenas nós mesmos, simples, iguais, no exercício da originalidade, que define o hominídeo, capaz de se adaptar e mudar sua conformação, ao ponto de romper as leis naturais e destruir-se a si mesmo. A criança nasce, assemelha-se a um ser vivo qualquer, que pede cuidado e alimentação. Passado um ano, mais ou menos, começa a agir como ser humano, recusando o que é saudável, buscando o prazer e fugindo da dor. Mas não sabe, senão depois de longa preparação, o que lhe traz prazer duradouro. Por isso, passamos boa parte de nossa vida procurando o prazer mais fácil, que nos cobra a dor mais duradoura.

Tem remédio a condição humana? O próprio termo pharmakos significa remédio e veneno, assim como o bem e o mal separam-se por tênue linha, amor e ódio, mentira, verdade, saber, ignorância, vingar, perdoar.

Pois então: os livros são, de alguma forma, como os remédios, que fazem bem e mal, dependendo do momento em que os lemos, do espírito que anima a leitura, do modo como dialogamos com os autores, a partir do que queremos dizer, ao ouvir deles o que gostariam de ter dito.

Os livros podem ser máscaras, por onde soa a voz... do leitor. É assim, aliás, que os religiosos bradam os livros que consideram sagrados, instrumentos para a exposição de seu próprio dogmatismo, de sua própria concepção de mundo. Se os autores dos livros sagrados, divinos e humanos, soubessem que não seriam lidos, mas apenas citados, desistiriam de seu intento de escritura. Ou, quem sabe, tenham mesmo sido sábios ao ponto de permanecerem anônimos, escondidos sob o véu do nome de outros, pouco reais, pouco imaginados. O próprio Deus dos monoteístas, Alá, Iavé/Jeová, talvez tenha deixado publicar apenas uma versão mais popularizável de suas ideias, escondendo, com medo da vulgarização, boa parte do que concebeu. Talvez tenha escondido também a melhor parte de nós mesmos, tornando-nos parciais e incapazes de realizar a grandeza da concepção que temos de nós mesmos - que nunca se encaixa na realidade e gera tanta exclusão, intolerância, dominação, exploração, opressão. Sendo apenas parte do que poderíamos ser, queremos sempre transformar os outros à nossa imagem, presumindo que a perfeição nos pode ser dada pelo meio de esconder, pela desigualdade, a imperfeição da simples diferença.

Mas vamos aos livros. Sem eles, para o bem e para o mal, sabendo ou não disso, tendo-os lido ou ignorado, não seríamos o que somos, nem o que presumimos ser, nem o que pretendemos ser e pretendemos que os outros sejam.

Eles estão aí - na maior parte desconhecidos - como risonhos construtores de nosso modo de ser, quem sabe inventores de nossa identidade, ou do que achamos que possa ser.

Mas foram escritos por outros de nós. O que significa que somos os artífices de nosso próprio engodo, que, tanta vez, chamamos destino.

Presos na malha da ficção, somos porém livres. Não como pássaros, somente, despossuídos dos instrumentos que usamos para trabalhar o mundo. Mas sobretudo livres para a morte, nosso destino mais igual e igualitário. Não nos conformamos com isso, é claro, e construímos uma hierarquia para ser vivida após a morte. Algumas dessas concepções de nova vida já foram refutadas pelos fatos: os pobres seres embalsamados, no antigo Egito, não despertaram em nenhum Paraíso, mas dentro das vitrines dos museus, vivendo o pesadelo da observação descuidada, impiedosa, constante e vulgar de turistas.

Sendo, pois, a nossa vida assim muito semelhante, nos sonhos que sonhamos e nos pesadelos que vivemos, parece evidente que a originalidade humana nasceu cedo, mas se tornou preguiçosa, aderindo logo à arte da imitação.

Por isso estava certo o poeta que disse que foram poucos os livros escritos, porque as poucas histórias que contaram vieram a ser recontadas constantemente, mesmo que com outros nomes, outros títulos, outros autores.

Segundo tal concepção, as poucas histórias realmente originais estariam nos primeiros livros, escritos por gente realmente industriosa e inteligente na arte de contar histórias e perpetuar na memória de leitores um enredo, cuja nostalgia fez com que fossem infinitas vezes compiladas e recompiladas.

Para o mundo que se convencionou chamar de ocidental (um grave equívoco, baseado em embustes e ficções medievais), tais histórias primeiras seriam evidentemente o antigo e o novo testamentos, além da Ilíada e da Odisséia.

Seu poder de preservar-se esteve na genialidade da concepção e do uso da arte de contar histórias. Essa arte é oral. Por óbvio, as fontes de todas as histórias, malgrado escritas, preservaram a sua melhor qualidade por guardarem o estilo e o sabor da oralidade. No que perde a afirmação que antes aqui fiz. Nem os primeiros livros são primeiros, pois suas histórias são compilações... de livros não escritos.

Ponto, pois, para um terceiro livro sagrado, que se acredita mesmo mera parte da revelação divina, que continua a se fazer e não é plenamente apreensível pela forma do livro, pela escrita. Assim se concebe o Corão.

Mais um livro importante, porque seminal. Já são cinco.
Haverá tempo, vita brevis, para a leitura e meditação de outros livros? Haverá necessidade disso, já que as demais histórias seriam as mesmas histórias?

Paradoxalmente, respondo que sim e sim.

A primeira resposta afirmativa apenas é decorrente do que já disse: não lemos os livros, mas a nós mesmos por meio deles. Lemos os livros para viver a vida fora (aparentemente) deles. Nossa leitura é rápida, breve, não se detém. Podermos ler todos os livros, não sejamos mais preguiçosos da leitura o quanto fomos da inventividade.

Cinco livros pra começar.... mas, é uma pena, não podemos lê-los com liberdade. Estão escondidos por séculos e séculos de outras leituras. Não conseguimos escavar o bastante para encontrá-los, nem temos essa capacidade.

Se for só pelo prazer lúdico de buscar um substrato arqueológico, do que são hoje tais livros na superfície, ainda vá lá. Mas há o problema adicional da guarda de tais substratos - selados, ensegredados (é um neologismo, para dizer o contrário de segredar) – pelos sabidos oficiais. Não se pode sair por aí desvendando substratos e cometendo erros de leitura e interpretação: um dos sabidos sempre vai corrigi-los e dar nota. Mais um ponto a menos para a nossa inventividade.

Por causa disso, outros livros foram escritos: quebram o segredo, sem dizê-lo. Recontam, ou melhor, refazem a história, rearranjam o enredo. Veja esse exemplo breve: um arqueólogo que chamou sua ciência de psicologia profunda, deu o nome de Édipo a um complexo de relações do início da existência. Referia Oedipus, um mito, depois uma peça teatral, depois, segundo a interpretação freudiana, uma outra peça teatral, cujo nome seria Hamlet. Ou seja, várias vezes a mesma história, mas contada de várias formas, cada uma delas obra da arte de seu contador. E depois ainda veio a história recontada por outro arqueólogo-filósofo, que assimilou o enredo ao curso de um julgamento. Vale a pena ler todos esses livros, todas essas versões? Claro que sim. São mais quatro livros, fora, é claro, as compilações de mitos propriamente ditas, que são inúmeras.

Até aqui, como já percebeu, não estou diretamente respondendo a sua pergunta, mas contando uma outra história, que começa, mais ou menos assim (como comecei pelo meio da história, agora preciso dizer como começa o começo): “No princípio, não era o verbo...” Por quê?

São várias as razões, mas a mais lógica é a seguinte: se o livro é um remédio... vem depois do mal que deseja curar, ou do bem que deseja recriar.

É por isso que, em boa parte dos primeiros livros, o autor é autêntico e começa a falar de alguém sem explicar muito quem seja. Ele pressupõe que todos já saibam de quem se trata.

Noutras vezes, o autor é falso, pretensiosamente original: ele explica quem é a personagem, diz porque se chama assim, quem eram seus ascendentes, quem serão seus descendentes, como formou seu caráter e por aí vai: no mínimo, dupla mentira: não foi o autor quem inventou a personagem; ele conta sua filiação só para agradar alguém do momento, ou adular seu povo, ou justificar os caprichos de um tirano, que se quer fazer povo... Exemplos inúmeros. Estão nos autores dos textos sagrados, abundantes, estão em Homero, em Virgílio, em Camões, e a lista não acaba mais. Vale a pena ler esses dois últimos aí? A descida ao inferno de Aeneas é uma das mais belas cenas já desenhadas. O dilema civilizador lusitano e sua dependência, muito cedo, da cultura dos mundos que ocupou, ajudam a entender muita coisa de nossa forma hesitante de ser. E Dante? Incipit Vita Nova!

O remédio da literatura, enfim, intoxica. Não conseguimos nos livrar dele. Seria uma boa coisa desvendar a razão disso. Para tanto, seria necessário recomeçar nossa história, agora do fim (já vimos o meio e o início).

Tenho mais um pouco de sua paciência de leitor?

Pois lhe digo: o mais belo de todos os livros é um livro que não existe. Não existe porque não foi escrito. É o livro que todos podemos e devemos escrever, mas que não esgotará a vontade e o desejo de ler o que não está escrito, pois outras gerações virão, dotadas do mesmo desejo, da mesma vontade.

Hoje em dia, em geral, os livros escritos são muito pobres de idéias, de imaginação. São pobres de história e na arte de contá-las.

Mas são pobres sobretudo de ética: meros plágios, sem muita arte, sequer reconhecem isso. Pior, gabam-se de originalidade... claro. Mas não é isso que chamo de falta de ética. Sabemos, desde os Antigos, que o que chamamos de criação é o entrelaçamento do que lembramos e esquecemos, conhecimento e desconhecimento, consciência e inconsciência.

Isto lança minha breve reflexão a uma obra que dá conta exata do poder da linguagem escrita, ao se apoiar na oralidade, mas acrescentar a capacidade de fazer o mundo abandonar a circularidade do tempo e começar a se perceber como fluxo em direção a um caminho impensado. Em algum lugar de La Mancha, de cujo nome não consigo recordar, vivia um fidalgo... Quem é que não se lembra dessas palavras, que são como o início do texto sagrado dos romances, da abertura à modernidade da experiência. Quantos jogos não construiu Cervantes, quantas ironias, escrever cartas para quem não vai ler, assistir ao sucesso do livro que está sendo escrito, embustes, ilusões a, até mesmo, realidade. O Dom Quixote é talvez o melhor momento de reflexão sobre a condição humana, que são múltiplas condições, mas também sobre o que pode realizar e seus limites. Mas uma obra sem vaidade.

Ética é caráter e destino comum. O que todas as obras que referi tinham de construção e reflexão sobre caráter e destino comum... perdeu-se nas obras de hoje, que são destituídas de caráter e de preocupação com o destino comum. Muito óbvias, pretensamente imparciais e universais, sem opinião, mal escritas para agradar o gosto mais vulgar, apenas frustram.

Há, em decorrência disso, uma condescendência com a mentira. Querendo parecer boazinhas, as pessoas andam mentindo muito. Escrevem o que não pensam, curvam-se a uma idéia de comunidade que não existe. Intimamente, são capazes das piores ações, dos piores pensamentos, mas mentem. Como são tolas as pessoas, hoje em dia, querendo parecer boas aos olhos de todos. E como são tolas as apologias constantes, cotidianas. Que perda de tempo e de material... Quanta homenagem à vaidade...

Os livros que todos gostaríamos de ler ainda estão à espera de ser escritos. Será que retrabalharemos os livros antigos, novamente com qualidade? Será que criaremos novas histórias, teceremos novas tramas? Espero que sim.

Antes de concluir, gostaria de citar o nome de alguns livros, que me agradaram e cuja leitura recomendo. São poucos de uma lista imensa, que sequer tenho paciência de passar para o papel. Mas acho que a lista vai agradar muita gente, que também citaria os mesmos livros, ou que venha a também os ler.

Muita gente pode ter lido, mas cada um leu de modo diferente, o que é muito bom. Como a biblioteca pessoal de cada um.

Tenho orgulho de possuir uma, com aproximadamente dezoito mil livros impressos – fora os que guardo, hoje, em meu computador. Essa biblioteca pessoal tem obras que foram de meu pai, Alfredo Attié (as que mais gosto são seus cadernos de estudo de latim, no antigo ginásio, os livros de estudo de grego), de meu tio Hélio Marzagão Barbuto e de sua amiga Mafalda, além de um livro de de cada um de meus tios Francisco e Antonio Barbuto, Luís Attié, outro de meu tio avô Paulo Marzagão, outras de queridos amigos, Horst Bardua, Renato Janine. Ainda guardo os livros que ganhei na infância e juventude de minha mãe, Maria Lucy, clássicos que líamos juntos, às vezes competindo pelo menor tempo, pela melhor resenha.

Mas para os livros há dois prazeres: para muitos o de apenas ter, para outros, o de ler.

E minha indicação se dá de poucos livros, apenas referindo o prazer da leitura, sem afetação, aquele que nos faz rir e chorar, eruditos e mundanos.

Todo autor, assim penso, ao escrever, está referindo, às vezes sem dizer, o que leu. Portanto toda boa obra está a indicar os seus clássicos.

Entre tais leitores-escritores, sugiro, na língua espanhola, Jorge Luis Borges e, italiana, Italo Calvino. Seus estilos são tão marcantes, que qualquer uma de suas obras abrirá as portas para todas as demais. Mas que tal, respectivamente, Pierre Menard Autor do Quixote, e As Cidades Invisíveis?

Para citar brasileiros, faço-o do quatuor que, criticamente, abre a reflexão do que somos e podemos ser, desvinculando-se das amarras da literatura anterior, apologética, reprimida: Sergio Buarque de Hollanda e Raízes do Brasil, Gilberto Freyre e Casa Grande e Senzala, Caio Prado Junior e Formação do Brasil Contemporâneo, e Mario de Andrade e Macunaíma. Ainda acrescentaria Guimarães Rosa e Grande Sertão Veredas e Clarice Lispector e a Paixão Segundo G.H..

Para citar dois autores de língua inglesa, cujos textos estão aptos a derrubar muitos preconceitos e dogmas estabelecidos, Henry David Thoreau e Walden, e Joseph Konrad e Heart of Darkness. Mas não esqueço o divertimento de outro texto inaugural, O Tom Jones de Henry Fielding.

Pensando na língua alemã, porque não endossar a dúvida sobre nossa pretensa capacidade de fazer e de criar: Homo Faber, de Max Frisch.

Ou, na língua holandesa, de nos definirmos pelo saber ou pela seriedade de nossos propósitos: Homo Ludens, de Johan Huizinga.

Da língua francesa, cito dois viajantes contemporâneos, Lévi-Strauss e Tristes Trópicos, e Pierre Clastres e a Crônica dos índios Guayaki. Os livros de viagem que nos ensinam a sermos outros e a respeitarmos e integrarmos a alteridade, como os antigos Heródoto e Tucídides, refletindo sobre o que somos. E cito também os viajantes persas e suas Cartas Persas, de Montesquieu.

Muita mais há de ser dito, mas encerro aqui, dizendo que, afinal, todos os livros que são realmente livros, ensinam-nos a liberdade de sermos nós mesmos e a igualdade de respeitarmos seus autores e os autores por trás deles.

Enfim, o que nos define é a alteridade e não a identidade.

Um grande abraço do Alfredo Attié.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Extra, extra!

"- A culpa é da mídia, que fica criando essas falsas expectativas na classe média... Eu sempre disse que mídia e média são o inferno na terra... Pra que tanta reclamação? Tá todo mundo ganhando um dinheirinho extra cá e lá... Político também é gente!" - disse o conde a nosso correspondente. Pediu e até exigiu que fosse identificado, mas nosso correspondente, sábio, apesar de ainda estudante, achou que era só pra conquistar mais eleitores. A ver.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Manifestação Estudantil põe governantes contra a parede


De nosso correspondente; "Estudantes fazem, em todo o País, em ato de veemente protesto pela melhoria da situação de ensino. Em várias universidades do País, os estudantes, num total de aproximadamente cinco mil e duzentas pessoas, realizaram caminhadas, que duraram, também aproximadamente, quinze minutos, ao final das quais, foram distribuídos panfletos - de propaganda das empresas que patrocinaram a iniciativa -, e folders de lançamento de condomínios. Alguns dos presentes discursaram. Ao final, foram aprovadas moções de apoio aos esforços dos Governos Estaduais e Federal para a efetiva melhoria da Educação, esforços que se refletem nos exames nacionais, internacionais e nas estatísticas oficiais. Os estudantes apresentaram proposta de destinação de parte da receita do pré-sal para a educação, além de dez por cento d orçamento da União e dos Estados para o fundo da educação. Uma missiva especial foi dirigida ao Ministro dos Esportes, reivindicando parte da verba da Copa e das Olimpíadas e que pelo menos uma das universidades envolvidas possa sediar ao menos um evento, sendo sugerido, especificamente, uma tarde de autógrafos de algum atleta estrangeiro, como o George Clooney ou o David Beckham . Aprovaram remeter ofício aos Senadores e Senadoras, com votos de felicidade, extensivos aos respectivos cônjuges. O dia de protesto, como foi chamado, contou com a participação de vários estudantes estrangeiros. Foram sorteados vários kits-viagem para estações de esqui, na Argentina e no Chile.

O ponto alto foi o sorteio de uma viagem à Disney, com direito a acompanhante, aos presentes O vencedor, em entrevista exclusiva a este periódico, revelou que está desempregado e não estuda em nenhuma Universidade. Apenas viu passar aquela garotada e ajudou a carregar as faixas. Achou a festa muito bonita, mas lamentou que não tivessem sido distribuídos sanduíches nem refrigerantes. Não deixou de agradecer muito aos organizadores do evento e pediu para colocarem o nome dele nas cartas aos senadores. Perguntado se conhecia algum deles, disse que sim, lembrava-se vagamente de um tal Feijó. Os Governos viram com bons olhos a manifestação e prometeram estudar com afinco as reivindicações. “Essa moçada é muito sapeca”, disse um Governador do sudeste, que pediu para não ser identificado. Outro Governador, que tambem preferiu o anonimato, mais experiente, sentenciou: "Vejo muito baseado nessa postura estudantil. Nao sei nao, muito tranquilos..." O Governo Federal prometeu mais verbas para carros alegoricos e eventos culturais: "O sertanejo, antes de tudo um forte, ja chegou a universitario. Mais carros alegoricos para a moçada". Os estudantes concederam o prazo improrrogável e definitivo de dez anos para a resposta a suas reivindicações. Nova reunião foi marcada para 2021. Os estudantes alertaram que permanecerão em mobilização simbólica até lá. Após a discussão de algumas sugestões, adotaram o mote da campanha sugerido por uma estudante visitante chinesa: 'Não importa quão devagar você vá, contando que não fique parado', segundo ela um dos ensinamentos de Confúcio. Um dos estudantes brasileiros presente, porém, disse que a frase foi tirada de uma reportagem sobre o trânsito paulista. Teria sido pronunciada pelo Secretário de Transportes de São Paulo... ”

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sobre mim

"Guia-me a só razão. Não me deram mais guia. Alumia-me em vão? Só ela me alumia. Tivesse quem criou O mundo desejado Que eu fosse outro que sou, Ter-me-ia outro criado. Deu-me olhos para ver. Olho, vejo, acredito. Como ousarei dizer: Cego, fora eu bendito? Como olhar, a razão Deus me deu, para ver Para além da visão - Olhar de conhecer. Se ver é enganar-me, Pensar um descaminho, Não sei. Deus os quis dar-me Por verdade e caminho"

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

I Want My America Back -- not the Tea Party's America



I Want My America Back -- not the Tea Party's America
Judge H. Lee Sarokin.
(Retired in 1996 after 17 years on the federal bench)


When I was a kid and we were deciding what games to play and how to play them, our slogan was "the majority rules." That constant and lofty principle ranked right up there with "loser walks" after a touchdown in sandlot football. The bullies and the brats who stamped their feet to get their way did not make the rules. We carried the concept of majority rule into our adult lives and assumed it applied to government as well, but apparently that is no longer the case. Some of our elected representatives would bring down this country in pursuit of their own jihad. The majority no longer rules, and we are all losers as a result. When have we ever had a statute enacted when so many legislators voted their approval and simultaneously voiced their disapproval? The country is in a state of despair -- and for good reason. The stock market has obviously given the debt-ceiling "compromise" and the debate leading up to it a flunking grade as has Standard & Poor's.

Wiser voices have spoken about the consequences of the legislation saving the country from its credit default. I am interested and concerned with the process. The undisputed fact is that a minority of the country has taken over its control. Although the cabal may not share blood oaths or secret handshakes, they have their intractable pledges and fanaticism that makes them willing to destroy this country's and possibly the world's economy to achieve their ends. By holding up a vote on what had been a traditional rubber stamp for decades by both political parties to raise the debt limit, they sought to extort compliance with their own demands irrespective of the destruction that might ensue if their demands were not met. This conduct strikes at the very foundations of our democracy and the future of our country.

The same is true of the use, or rather the abuse, of the filibuster rule and need for a super-majority. The filibuster rule was enacted and reserved for those rare occasions when the minority was so incensed or outraged by legislation or appointments proposed by the majority or the president that it used this rule to defeat them. For years, an actual filibuster was required. Now, no one need stand in the well of the Senate and actually filibuster, the mere threat is sufficient, and the rule is used in a trivial manner to defeat or delay virtually all important legislation or appointments proposed by the majority. (I have previously expressed my ambivalence over the survival of 60 vote rule.)

Who can quarrel with noble and popular goals of less government taxes and spending, the reduction of the deficit and the elimination of waste? They are the "Mom and apple pie" of politics. But there is certain hypocrisy in suggesting that this pact not to raise taxes, end or reduce subsidies, loopholes or deductions for the very wealthy is the result of some "grassroots" movement by the public at large. In resisting efforts to raise taxes on the rich and eliminate their deductions, subsidies and loopholes, the argument is made by conservatives that the rich already pay most of the country's taxes. They argue that a large portion of the nation pays little or no taxes. Therefore, by their own admission, this intractable resistance to raising revenues from the wealthy is not some uprising of the people, but rather for the benefit of those that have rather than those who have not.

Apart from the early, classic Tea Party slogan, "Keep the Government out of Our Medicare," the cry was, "I Want My America Back". Well, I want MY America back too. Yes, the deficit must be reduced, waste eliminated, spending curtailed, and entitlements reviewed and probably reduced, but we need a government that operates by compromise not coercion. I want an America that builds bridges and hires workers to build them. I want an America that educates its children, feeds its poor, helps the unemployed, cares for its veterans, provides for the elderly and treats the sick who cannot afford it. I want an America that protects its environment, its food supply, its consumers and its borrowers. I want an America that is more concerned about the civil rights of its citizens rather the mythical invasion of Sharia law. What I don't want is to deny any or all of the foregoing in order to protect the wealth of the wealthiest among us. I want an America that cares as much about its people as it does about its corporations. I want an America that reflects the will of the majority in the decisions it makes and not some small, fringe group that threatens the country and its people in order to achieve its goals. I want an America that is not governed by bullies and brats who insist on making the rules. I want an America in which the rules that governed my childhood playground govern the country as well.

There is no such thing as society



Já dizia Thatcher: “Essa coisa de sociedade não existe”
in Bate Estaca: por Camilo Rocha

Geralmente, Londres aparece aqui no blog por motivos muito cool: tendências, música, festas, cultura pop.

Mas, desde sábado (6), Londres está em chamas e o cenário só piora. Os distúrbios, saques, incêndios e quebra-quebras se espalham pela cidade (e fora dela, agora que Birmingham, Manchester, Liverpool e Bristol também registram problemas).

Minha família costuma ficar em Hackney quando está em Londres. Minha mãe está por lá e nesta segunda (8), depois de ir ao centro do bairro para compras, voltou assustada quando a situação começou a ficar tensa. Lojas todas fechadas, helicópteros pelos céus, jovens encapuzados correndo pelas ruas e sensação de caos.

Há dois fatores por trás dos distúrbios: o estopim do momento, que foi a morte de um homem negro causada pela polícia; e um ressentimento mais antigo e profundo que envolve questões raciais e sociais, amplificados num país em crise com um governo que vem realizando sucessivos cortes em benefícios e auxílio.

Aqui matéria do The Guardian sobre o fechamento dos Youth Clubs (clubes para tirar jovens das ruas e direcioná-los para esporte, atividades vocacionais e emprego).

Não fez nem um ano que enormes protestos estudantis tomaram conta de Londres. Os manifestantes reclamavam contra cortes no sistema educacional.

Existe, claro, uma grande diferença entre protestar pelos seus direitos e as cenas de vandalismo gratuito e saques que tomaram conta da capital britânica. Pessoas perderam a moradia em incêndios, pequenos comerciantes tiveram prejuízos imensos e jornalistas foram agredidos. Não se pode justificar nada disso, mas deve-se procurar entender o que alimenta a raiva e a vontade de destruir.

Um livro que ajuda a compreender as raízes da tensão social no Reino Unido é No Such Thing as Society: A History of Britain in the 1980s, de Andy McSmith, que analisa a década dominada pelo governo Margaret Thatcher, uma época em que o abismo entre ricos e pobres aumentou muito. Foi o tempo onde se criou um novo paradigma social, mais individualista, expresso na frase de Thatcher que dá nome ao livro: “Essa coisa de sociedade não existe… as pessoas tem que cuidar de si mesmas primeiro.”

Será que o caldo transbordou de vez agora?

O site do jornal The Guardian mantém um update constante dos acontecimentos nesse link aqui.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Casamento e Justiça

 Fica aí, como um desagravo aos Juízes e Juízas que estão, apenas retirando as conseqüências da decisão do STF, relativa ao reconhecimento da união estável homoafetiva, concedendo a conversão em casamento (civil). Se a Constituição determina... ao Estado a facilitação da conversão da união estável em casamento; se o STF reconheceu a possibilidade de ser homoafetiva a união estável; então, sua conversão se torna possível. Foi apenas isto que foi deliberado pelos magistrados. Não há razão para protestos, do ponto de vista estritamente jurídico e jurisdicional.
 Se é admitida a união estável e sua conversão em casamento, será ilógico não reconhecer também o casamento direto.
 O direito é (e deve ser) laico. O casamento é uma relação de direito civil. É disso que se trata e não da concepção religiosa do casamento.
 O direito canônico deu passos decisivos para a configuração do casamento, como contrato especial. Ao ocorrer a dessacralização, o desencantamento do mundo, na modernidade, as conseqüências do que o direito canônico estabeleceu - como uma revolução, no Medievo - estão sendo paulatinamente retiradas.
 Nenhuma censura, pois, a tal processo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Aposentadoria Faraônica, por Alfredo Attié

Do enviado internacional.

A Câmara dos Lordes, preocupada com o crescente número de parentes de antigos políticos a participarem da política, exercendo cargos por eleição ou nomeação, em todos os âmbitos da Riqueza Comum, acaba de iniciar negociação com a Câmara dos Comuns, visando à propositura de Projeto de Lei a propósito da Aposentadoria dos Políticos. O objetivo é findar com as linhas infindáveis de sucessão familiar na política.

"- Esta é uma Monarquia Hereditária", exclamou um de seus mais ilustres membros, bradando contra a iniciativa. "- Querem terminar com toda uma tradição de séculos, com privilégios legítimos", acrescentou outro.

Mas, para os autores da iniciativa, até as monarquias encontram limites, relativamente ao nepotismo.

A inspiração para o projeto, comentou seu autor intelectual, em entrevista exclusiva para este periódico, é o Egito. "- Depois dos recentes movimentos pela democratização, no chamado mundo árabe, passamos a prestar mais atenção ao que o Antigo Egito nos legou", sentenciou.

De fato, a par de tantas contribuições relativas à organização da produção e do Estado, os aspectos culturais demonstram a sobrevivência de várias ideias egípcias no Ocidente.

"Veja a religião, por exemplo", pontifica o grande arqueólogo britânico, nascido em Alexandria, filho de mãe egípcia e de pai inglês, Sir Joseph Calh Airos Tem'Er Ney, membro da Academia Britânica O egípcios são responsáveis diretos por nossa crença na imortalidade. Criaram todo um sistema de rituais e técnicas para a preservação do corpo para a morada eterna.

O povo Judeu, que vivia em contato com os Egípcios, acabou influenciado pela ideia. Talvez pela relativa inferioridade material, ou por uma tendência ao pensamento mais teórico, formularam-na em termos mais abstratos.

Deixando de lado o fato de os Egípcios terem-se evidentemente enganado (basta observar a quantidade de múmias que, em vez de renascerem no Paraíso, acabaram despertando observadas, dentro de vitrines, em Museus do mundo todo), um aspecto parece poder servir de inspiração, empregado para o aperfeiçoamento político das monarquias renitentes.

Como se sabe, ao falecer, o Faraó, costumava-se encaminhar toda sua parentela e burocracia mais próxima também para o túmulo, deixando livre o mundo dos vivos para o sucessor, sem a influência dos antigos colaboradores e beneficiários da política, que abriam mão dos privilégios e bens materiais hauridos da proximidade ou do exercício do poder, para que a terra realmente pudesse belong to the living, na expressão de um americano mais ingênuo.

Muito bem, o projeto, já denominado de “aposentadoria faraônica” obrigará a aposentadoria compulsória de todos os parentes do político antigo que se aposentar ou vier a, ocasionalmente, num mundo em que a imortalidade está cada vez mais materializada, falecer.

“É impressionante o potencial de renovação da vida pública que a execução do projeto trará”, revela a própria Rainha, um pouco assustada, é bem verdade.

Deixando de lado aspectos ideológicos, a iniciativa parece instigante e poderá trazer novos rumos e ares para o velho Continente.

Em repúblicas mais modernas – caso do Brasil -, contudo, será de pouca utilidade. A par dos princípios e valores morais rígidos, as estatísticas demonstram a pouquíssima incidência de nepotismo, da usurpação dos bens públicos por amigos ou parentes dos políticos. Muito menos existem – como é típico apenas das monarquias hereditárias – famílias de políticos ou casos de sucessão por parentes.

No Reino Desunido, porém, o problema é grave, de tal sorte que a imortalidade -, dos Faraós e de sua influência cultural - parece garantida.

terça-feira, 21 de junho de 2011

De Rui a José: fazer esquecer é história...

A história não absolverá ninguém... só o "Túnel do Senado" absolve!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Consultoria sem Sentimentos: uma breve teoria

Há três modos da consultoria: situacional, opositiva e privativa-pontual.
Ou seja, há três tipos de consultoria: a consultoria da situação, a consultoria da oposição e a consultoria privada. É a minha conclusão humilde de observador leigo e destituído do dom da consuloria.
A consultoria da situação é mais rica. Tem os melhores clientes, muitos ex-clientes da consultoria da oposição, que os perdeu quando deixou de fazer consultoria da situação.
A consultoria da oposição não é tão pobre, pois é movida por sua esperança e pela esperança de seus clientes de que volte a prestar consultoria de situação.
A consultoria de oposição não fala mal da consultoria da situação nem lhe faz concorrência. Teme que lhe tomem os clientes e que perca a possibilidade de recuperar os que já perdeu.
A consultoria privada divide-se entre a) dedicada, especializada e séria; e b) a outra, movida pela esperança de abandonar migalhas e poder participar da consultoria situacional ou oposicional.
Em geral, o/a concultor/a é aque/a que conhece... alguém...
O consultor não é marqueteiro. O marqueteiro não diz que conhece alguém, mas que fará todo mundo conhecer o marquetado...
O consultor também não é lobbysta. O consultor pode dizer que conhece o lobbysta que conhece quem o consultador acha importante ser conhecido.
Nem consultor, nem marqueteiro, nem lobbysta têm qualquer compromisso com o resultado. Apenas participam dos resultados...

Primeira proposição filosófica sobre estar on-line ou ser on-line: a identidade

Engraçado o on-line. Imaginem uma pessoa que carregue consigo uma cãmera, nos óculos, de tal sorte que vc possa acompanhá-la em tudo o que fizer, ver o que vê, ouvir o que ouve... E que você passe a, com exceção do período de sono, apenas acompanhar o que ela faz, pelo video de seu computador... Qual é a sua identidade, a partir da experiência de outro?

Máximas sobre mazelas máximas 1

Há uma acomodação em relação ao quê fazer (o que é muito latino-americano - sempre aguardando o que o governo vai fazer ou lutando para que o governo faça) e uma postura diferente (mais anglo-americana) de se reunir e fazer.

"A Mecânica das Potências" Alfredo Attié, em 27.05.2011


A Mecânica das Potências
Do correspondente
internacional.

Após o Impostômetro e o Sonegômetro, agora, a festejada Cãmara dos Lordes acaba de aprovar, em segundo turno, a criação, no centro do Largo das Três Potências, do Embolsômetro.
O ato entra como disposição transitória na Constituição – não escrita, tradição dos Países do Common Sense, repetindo anterior, que mandava fazer uma estátua para Herói nacional.
O mecanismo ocupará a praça, assim retirando o espaço livre, antes utilizado para manifestações públicas.
O público, como se sabe, hoje em dia, tornou-se supérfluo, sendo devidamente
segmentado, classificado por letras, com direito a hierarquia de consumo e
ascensão. Por outro lado, seus representantes já ocupam o poder e os poderes
prescindem absolutamente de sua participação, a não ser, por obrigação constitucional, de quanto em quanto tempo, em atos céleres e de apuração mais célere ainda, denominados, por louvor à tradição, de eleições.
Não será apenas um, mas três Embolsômetros, respeitando assim a autonomia constitucional.
Será erguida uma altíssima torre, com três grandes partes - como três bicos ou três triângulos - cada uma voltada para uma lado, de forma harmônica e independente.
Os mecanismos, porém, que funcionarão segundo o famoso sistema norte-americano de freios e contrapesos, muito embora aparentemente autônomos, estarão interligados no
subsolo, onde estará o controle central de equilíbrio das três máquinas.
Permitindo o controle conjunto e os consertos necessários, a sala será chamada
de câmara dos acertos.
Os três Embolsômetros trabalharão consecutivamente. Cada um terá sua unidade, afinal de contas, algumas das máquinas funcionam por prazos, outras por casos, outras por obras, assim por diante, Cada uma tem seus critérios. O equilíbrio e os números serão, pois, relativos e não absolutos.
Técnicos de cada uma das máquinas poderão fazer acertos sozinhos - intrapotenciamentais, mas,também, poderão fazer acertos conjuntos - interpotenciamentais.
O importante é que, ao sair, todos sejam humildes o suficiente para se surpreender e não se gabar dos resultados alcançados. Se algum dos acertos for descoberto, caberá à potência competente mandar investigar.
Para contemplar o principio federativo (afastando, assim, as críticas de falsa solidariedade), cada membro da Comum Riqueza pátria terá sua torre, em todo o entorno da praça. Para tão valorosos membros, não haverá um relógio propriamente, mas um sino ao alto de sua respectiva torre, que tocará sempre que seu embolsômetro alcançar determinado valor.
Divergências houve a propósito do nome, Embolsômetro tendo acabado por ser escolhido, pela abrangência e ausência de ambigüidade. Emeiômetro foi descartado, porque poderia significar apenas que o relógio ficaria no meio de algo, quiçá doa
próprio largo. Encuecômetro, igualmente, por ser demasiado específico, além de
inadaptado à dignidade do espaço e da função.
A inauguração ocorrerá logo após eleições, em ato interpartidário, cujo ápice será a apresentação de várias manifestações espontâneas da cultura unida – unidade da diversidade.
Torres e relógios e sinos serão oferecidos, por ato voluntário, pela iniciativa privada. Os patrocinadores, demonstrando verdadeiro espírito publico, desejam permanecer no anonimato.
O monumento estará à altura do País Trimegisto, três vezes grande, três vezes potência (daí o nome do Largo), Pátria do futuro sempre presente.
O Hino Nacional será tocado e as grandes figuras serão rememoradas, desde o inicio do Império.